Causa perplexidade (e até medo e repulsa) a muitos observadores
da Europa Ocidental o resultado das eleições em muitos países da Europa
Oriental (antigo Bloco comunista até 1989-1991), eleições essas que têm levado
ao Poder governantes que não encaixam pelos padrões “desejáveis” deste lado do
Velho Continente: Orban (Hungria), Putin (Rússia), Morawiecki (Polónia), só para
citar os mais conhecidos.
Que têm em comum estes políticos?
São nacionalistas, algo autoritários, preconizam uma economia
de mercado mas sob tutela do Estado, defendem valores religiosos e familiares
em declínio do nosso lado, não aceitam o “diktat” de Bruxelas no que respeita à
entrada de imigrantes (sobretudo vindos de países muçulmanos). Tudo em
contra-corrente à linha dos Governos “ocidentais” da UE, que alinham
precisamente em políticas contrárias: livre-circulação de pessoas e
mercadorias, entada maciça de refugiados (verdadeiros ou não…), laicismo
agressivo, casamento “gay” com adopção de crianças, “ideologia de género”, etc.
Daí os comentadores e jornalistas usarem chavões depreciativos como “populismo”
e até “fascismo”, na ânsia de demonizarem estes políticos sem compreender
porque as populações votam neles. Mas esquecem que Orban, Putin, etc. ganharam
eleições livres e justas.
Porque é que as populações votam neles então? Eis algumas
modestas achegas para tentar deslindar este novelo:
1 1) A entrada da economia de
mercado nos anos 90 nos países ex-comunistas foi acompanhada de grandes custos
sociais, como despedimentos, desemprego e privatizações mafiosas de empresas públicas
com a criação de oligarquias (Rússia de Ieltsin, por ex.); daí as populações
sentirem necessidade de Governos “musculados” e reguladores da economia e “homens
fortes” - embora mantendo o sistema capitalista e o regime representativo;
2) O Comunismo, por paradoxal que pareça, era puritano em muitos aspectos; daí os povos de Leste, passada a primeira fase da descoberta das “delícias do Ocidente capitalista” (consumismo, pornografia, etc.) rejeitarem os aspetos mais extravagantes da nossa Sociedade (como as paradas “gay”, "ideologia de género" e coisas aparentadas);
2) O Comunismo, por paradoxal que pareça, era puritano em muitos aspectos; daí os povos de Leste, passada a primeira fase da descoberta das “delícias do Ocidente capitalista” (consumismo, pornografia, etc.) rejeitarem os aspetos mais extravagantes da nossa Sociedade (como as paradas “gay”, "ideologia de género" e coisas aparentadas);
3 3) Nalguns países a religião
foi o elemento estruturante da identidade nacional - como o Catolicismo na
Polónia, face às ocupações nazi e soviética; noutros, renasceu depois de décadas
de perseguição, como a Igreja Ortodoxa na Rússia;
4 4) Na Hungria, persiste a
memória das invasões otomanas (turcas) dos séculos XVI e XVII; daí a hostilidade
à entrada de imigrantes vindos de países muçulmanos; e depois a livre-entada de
imigrantes vinda de países muçulmanos é vista neste países como sinal de
perturbação do tecido social e fonte de conflitos - até porque os casos de
má-integração destas minorias (Reino Undo, França, Holanda, etc.) são já
patentes;
5 5) Os políticos liberais são
vistos como “mandatários” da União Europeia e os socialistas são, na sua
esmagadora maioria, os ex-comunistas pré-1989, (embora “reciclados” e
convertidos ao pluralismo democrático). Isso abre espaço politico a um outro
tipo de políticos, que conjugam autoridade, justiça social, patriotismo,
valores religiosos, economia de mercado regulada.
6 6) Finalmente - e sem querer
encerrar esta questão - até que ponto a Democracia tem que obedecer ao padrão
pré-formatado das nossas sociedades europeias ocidentais? Alguns falam mesmo de
“Democracia iliberal” para caracterizar estes regimes (Fareed Zakaria).