quinta-feira, 19 de abril de 2018

O Novo «Bloco de Leste» - a propósito das eleições húngaras


Causa perplexidade (e até medo e repulsa) a muitos observadores da Europa Ocidental o resultado das eleições em muitos países da Europa Oriental (antigo Bloco comunista até 1989-1991), eleições essas que têm levado ao Poder governantes que não encaixam pelos padrões “desejáveis” deste lado do Velho Continente: Orban (Hungria), Putin (Rússia), Morawiecki (Polónia), só para citar os mais conhecidos.





Que têm em comum estes políticos?

São nacionalistas, algo autoritários, preconizam uma economia de mercado mas sob tutela do Estado, defendem valores religiosos e familiares em declínio do nosso lado, não aceitam o “diktat” de Bruxelas no que respeita à entrada de imigrantes (sobretudo vindos de países muçulmanos). Tudo em contra-corrente à linha dos Governos “ocidentais” da UE, que alinham precisamente em políticas contrárias: livre-circulação de pessoas e mercadorias, entada maciça de refugiados (verdadeiros ou não…), laicismo agressivo, casamento “gay” com adopção de crianças, “ideologia de género”, etc. Daí os comentadores e jornalistas usarem chavões depreciativos como “populismo” e até “fascismo”, na ânsia de demonizarem estes políticos sem compreender porque as populações votam neles. Mas esquecem que Orban, Putin, etc. ganharam eleições livres e justas.

Porque é que as populações votam neles então? Eis algumas modestas achegas para tentar deslindar este novelo:

1  1) A entrada da economia de mercado nos anos 90 nos países ex-comunistas foi acompanhada de grandes custos sociais, como despedimentos, desemprego e privatizações mafiosas de empresas públicas com a criação de oligarquias (Rússia de Ieltsin, por ex.); daí as populações sentirem necessidade de Governos “musculados” e reguladores da economia e “homens fortes” - embora mantendo o sistema capitalista e o regime representativo;

     2)  O Comunismo, por paradoxal que pareça, era puritano em muitos aspectos; daí os povos de Leste, passada a primeira fase da descoberta das “delícias do Ocidente capitalista” (consumismo, pornografia, etc.) rejeitarem os aspetos mais extravagantes da nossa Sociedade (como as paradas “gay”, "ideologia de género" e coisas aparentadas);

3  3) Nalguns países a religião foi o elemento estruturante da identidade nacional - como o Catolicismo na Polónia, face às ocupações nazi e soviética; noutros, renasceu depois de décadas de perseguição, como a Igreja Ortodoxa na Rússia;

4   4) Na Hungria, persiste a memória das invasões otomanas (turcas) dos séculos XVI e XVII; daí a hostilidade à entrada de imigrantes vindos de países muçulmanos; e depois a livre-entada de imigrantes vinda de países muçulmanos é vista neste países como sinal de perturbação do tecido social e fonte de conflitos - até porque os casos de má-integração destas minorias (Reino Undo, França, Holanda, etc.) são já patentes;

5   5) Os políticos liberais são vistos como “mandatários” da União Europeia e os socialistas são, na sua esmagadora maioria, os ex-comunistas pré-1989, (embora “reciclados” e convertidos ao pluralismo democrático). Isso abre espaço politico a um outro tipo de políticos, que conjugam autoridade, justiça social, patriotismo, valores religiosos, economia de mercado regulada.

6   6) Finalmente - e sem querer encerrar esta questão - até que ponto a Democracia tem que obedecer ao padrão pré-formatado das nossas sociedades europeias ocidentais? Alguns falam mesmo de “Democracia iliberal” para caracterizar estes regimes (Fareed Zakaria).





O Novo «Bloco de Leste» - a propósito das eleições húngaras

Causa perplexidade (e até medo e repulsa) a muitos observadores da Europa Ocidental o resultado das eleições em muitos países da Europa O...